segunda-feira, 13 de outubro de 2008

“Death Proof” – análise/crítica

“Death proof” trata-se de um filme sobre vingança, no qual Quentin Tarantino, o realizador, concede uma invulgar força ás mulheres, estabelecendo um ritmo crescente, que vai desde os intensos diálogos da primeira parte à intensa acção física da parte final. A violência e o gore assumem aqui um deliberado estilo anos 70, apresentando-nos uma fotografia granulosa, cores gastas, película riscada, mudanças de bobine e cortes propositados na montagem. É de salientar que “Death Proof” foi idealizado para ser apresentado em sessão dupla, juntamente com o filme “Planet Terror” de Robert Rodriguez.
Como já referi, este filme elabora inúmeras referências aos anos 70, quer a nível estético, como comprovamos com a fotografia de Brigitte Bardot cuja pose é imitada por Jungle Júlia; quer a nível cinematográfico, mencionando “Vanishing Point” (1971). Mas, paralelamente a estas referências, Tarantino faz questão de se deslocar de um tempo fixo, mostrando-nos telemóveis e carros figurantes totalmente actuais.
A estrutura do filme divide-se em duas partes, separadas cronologicamente por um período de catorze meses e por dois grupos distintos de jovens mulheres. O primeiro composto por quatro jovens arrogantes com imensa vontade de se divertirem; e o segundo composto também por quatro elementos, mulheres temperamentais decididas a experimentar as potencialidades de um Dodge Challenger R/T de 1970, o modelo usado em “Vanishing Point”.
“Death Proof” é um filme que nos implementa o desejo de parar cada frame e analisar atentamente todos os detalhes, sabendo antecipadamente que todos eles foram pensados com extrema minúcia.

“Requiem for a dream” – análise/crítica

“Requiem for a dream” é considerado um drama do ano 2000, dirigido por Darren Aronofsky, centrado na descrição de diferentes tipos de vícios, que acabam por conduzir os personagens à entrada num mundo ideal, que é mais tarde devastado pela cruel realidade. Trata-se de uma história moderna, onde se cruzam vivências paralelas de quatro pessoas que decidem procurar uma vida melhor, mas que rapidamente descobrem que será difícil atingir esse objectivo, recusando-se a desistir mesmo quando o destino lhes prega as mais graves partidas.
Neste filme, torna-se bastante perceptível a utilização de montagens de cenas extremamente curtas, apresentando mais de dois mil cortes. Para além desta característica de montagem, é ainda de salientar um outro recurso: a divisão da tela, que confere, juntamente com o curto período de cada cena, um maior dinamismo ao filme. As cenas intensas alternam rapidamente, sendo acompanhadas por uma banda sonora cada vez mais intensa.
“Requiem for a dream” é considerado um dos filmes mais perturbadores sobre o mundo dos viciados. Uma obra totalmente dependente do grafismo e da banda sonora. Um filme que provoca no espectador uma espécie de desconforto face às sensações, sentimentos e angústias vividas pelas personagens. E é esse o seu maior triunfo, levar-nos ao limite.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

“Dogville” – análise/crítica do filme

“Dogville” é um impressionante filme, lançado em 2003 e dirigido por Lars Von Trier, no qual o mesmo assume também a função de operador de câmara. Dogville é o primeiro filme de uma trilogia, centrada nos Estado Unidos da América e designada por “EUA: the land of opportunities”.
Neste filme, Lars Von Trier apostou numa simplicidade de cenários, num “vazio preenchido”, no preenchimento de um “vazio fictício”. Ao abdicar dos cenários e dos adereços, o realizador procurou valorizar o âmago de cada uma das personagens para que o espectador, exteriorizando o “supérfluo” e o “superficial”, pudesse olhar apenas para o que verdadeiramente interessa no seu filme: a desumanidade demonstrada pela humanidade; e para que não se esqueçam que estão a assistir a uma peça de ficção. Do meu ponto de vista, este factor constitui um conceito bastante interessante, na medida em que permite ao espectador criar a imagem de um cenário inexistente e consciencializar-se de que está realmente perante uma ficção. Para além de que acho que se deve salientar o trabalho sonoro que este mesmo conceito implica. Este é um dos factores de maior riqueza do filme.
Apesar de os vários personagens fazerem constantes referências à paisagem ou ao céu, o fundo é infinito, tendo constantes alterações de luz e cor que indicam mudanças de dia e noite, clima e momentos do filme.
Em “Dogville”, Lars Von Trier apresenta uma percepção pessimista da humanidade, onde impera o cinismo, a hipocrisia, a chantagem, a vingança, a mentira e uma visão dogmática. O filme constitui, assim, um retrato exemplar sobre o comportamento humano, a vida em comunidade e a tensão estabelecida entre a escolha individual e a norma colectiva, designando-se então por uma parábola moral. Nele, é feito o retrato da arrogância humana, de pessoas cruéis, mesquinhas e egoístas
Com o visionamento de “Dogville” torna-se também perceptível que o mesmo apresenta diversas influências teatrais, que lhe conferem uma maior riqueza.